sábado, 31 de janeiro de 2009



foto flickr/ fábio pinheiro

O universo vibra
suas cordas
em suave diapasão
contrai-se ou se distende
preguiçosamente
como as palhas do coqueiro
se movem
à brisa do verão.

As cordas do universo
em movimento
movem os elementos
água,terra,fogo, ar
num jogo de instrumentos
que compõe os tons
colore os sons
da sinfonia maior
da canção
indescritível.

Das cordas do universo
em vibração
nascem árias de sopranos
e os sons guturais
dos palatos
e cordas vocais:
sons de metais,
tons de veludo,
tudo
se transformando
e criando harmonias
em múltiplas dimensões
de espaço-tempo
de brisas,de ventos...

O universo toca
em suas cordas
a contínua melodia
que se expressa no verso,
no reverso,
que reverbera
em ciclos
em nosso plexo solar

O universo todo é pura,
rara música,
nestas cordas intangíveis
Inaudíveis aos ouvidos dos humanos
que não a sabem escutar.

Mas as palhas do coqueiro
à beira mar
ouvem os cânticos
quânticos
do universo
que se insinuam
nos ventos alísios,
nas ondas,
no azul profundo
Do infindável mar

sobre a obra:
O universo pulsa nas cordas quânticas, em dimensões inimagináveis aos olhos humanos... e a poesia pulsa nos versos arrancados do peito e das cordas dos instrumentos.

ORA DIREIS, VER UNICÓRNIOS!


Poema inspirado pelo conto do autor americanoJames Thurber, " Um unicórnio em seu jardim"
foto " Unicórnio II" no site Flickr/Ferran

O unicornio passeia
no jardim
sua implausibilidade.
Entre os jasmins
e rosmarins
passeia, plácido,
o unicórnio
pastando rosas
e lírios
delírios
de quem o vê.

È impossível estar ali
aquele unicórnio
ímpar
mítica imagem
como seus irmãos
centauros
e minotauros
a torturar retinas
camufladas
em paredes
de pedra.

É-lhe impossível
estar ali
pastando musgos
e rosas
em plácida postura.
No entanto
Ele ali está
desafiando os olhos
que teimam em decretar
sua inexistência.

O unicórnio pasta
no jardim
comendo rosas
e lírios.
Sim. Ali está
E ai de quem não o vê
Com os olhos do coração.
Perderá a razão
Do sonho
E o sonho da razão.

E só lhe restará
A camisa de força
do real
Que aí está,
todos os dias,
em toda página
de jornal.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

mais do mesmo (did u remember Zeppelin? )


foto: flickr/francisco(gifted)- por da lua (cheia)

Perguntas-me, meu amor,
porque caminho a esmo
sobre as trilhas
sobre as linhas
por que volteio
e por que sempre retorno
ao mesmo
velho tema
que teima em arder
no peito
no jeito, no pincelar
das palavras
com pincéis de cores
ora fortes
ora neutras
em que afloram os sentidos
e os sentimentos insones
desejos subterrâneos
buscando vir à luz.

Perguntas-me meu amor
que poemas são esses
de uma rima só
em que se repete,
indefinidamente,
a mesma velha cantiga
muda cena do poeta
que já não morre de amor
nem de cólera
ou de tuberculose
ou de overdose
morre-se de tédio
nestas tardes mornas
sem perspectivas
sem saídas
sem entradas
ou bandeiras
ou ideologias.

E eu penso no tempo:

lembras-te, meu amor,
como nos velhos tempos
ficávamos, horas a fio,
madrugada a dentro
lentos, calmos, plácidos
como as auroras
discutindo os poemas de amor
de Éluard, de Vinicius,
de verlaine
os êxtases de Tereza
e as múltiplas faces
das pessoas de Pessoa
em cujo país havia o Tejo
e o tédio
que se buscava matar
na tabacaria
e nas infindáveis odes
devaneios marítimos.
E olhávamos a lua, as luas,
quantas luas se passaram?
quantas cheias, minguantes
ou novas luas passaram
enquanto nós discutíamos
o amor na poesia
e os curtos poemas-concretos
Objetos
Abjetos
dejetos
dos surrealistas
e os líricos
telúricos cânticos
à humanidade
do irmão Whitman!

Ah! meu amor
contigo viajei
nas estradas dos sessenta
um poema na mão, a flor
na cabeça
e o sonho dirigindo
digerindo vidas
delineando a estrada
aos riffs sonoros das guitarras
e vozes rascantes
de ídolos
que tinham pés de barro.

Perguntas-me, meu amor,
quanto tempo, tanto tempo
se foi e a ainda canção
continua a mesma?
Quantas luas, quantas quedas,
tantas pedras
quantos precipícios
quantos inícios
tantas flores mortas,
estradas tortas
sonhos desfeitos
e a canção ainda
é a mesma?

E eu te digo, meu amor,
é a mesma canção
que nos embala
como bebês-mandala
girando na roda
do véu de Maia:
o tempo passa,
o tempo não passa
o tempo desfia
a meada do novelo
desafia a memória
e se reconstrói
como fênix.

Por isso, os poemas
a busca pela palavra
e por sua magia
pelo seu poder
de luz
que seduz
e se traduz
em versos, urdidos pelo tempo,
que pairam, depois de lidos,
como imagens de um universo
paralelo
onde pairam
bandos bêbados de poetas:
bêbados de beleza
bêbados de encantamento
bêbados, contemplando,
os novos bêbados
de poesia
que se entregam
ao doce ofício
De sugar das palavras
todas possibilidades
que pulsam, entre céus
e infernos,
eternas,
ao alcance daqueles
que souberem mergulhar
Em seus cânions
nervos, carne
e sangue:
o verbo que se faz
carne.