quarta-feira, 18 de março de 2009

RAW-WAR


foto: No a La Guerra - flickr/Macfacizar

Canto I
A palavra se cala
estupefata
diante da putrefata
crueza da morte
que assola os sentidos.

A palavra cora
envergonhada
diante da tinta
da fúria
que assola
e tinge o cenário.

Canto II

Terra devastada
em que se digladiam
irmãos de sangue
em mãos cruzadas
morrem os homens
apagam-se os sonhos
gotejando sangue
coquetéis vermelhos
gosmentos,
grudentos,
sangue novo
sangue antigo,
sangue cíclico
na terra devastada
nos desertos erráticos
longe dos oásis
e das calmarias
longe dos jacintos
e dos lilazes
de abril
só tenazes
apertando as gargantas
tantas.

Escorrem mundos
pelos dedos
pelos medos,
pelos becos,
pelas bocas correm escarros
escamas de sangue: bombas
da paz, explodem
sôfregas, trôpegas,
a morte
sorrindo, insidiosa,
sedenta, e o diabo
que se veste de cordeiro
esbanja escárnios.

E o sangue corre, escorre,
Explodem corpos e ossos
Se esfarelam:
É o sonho da paz
Que volta ao pó.
É a sanha do ser
Que não se entende
em nome de deus.
É destino ou desatino
Essa insensatez?

Canto III
A terra devastada
apenas observa
com olhos enevoados
e choram as pedras
e se empedram os cantos
e secam os cântaros
por perdas, por danos
e pela dor dos homens
que ficam
a espiar horizontes
com olhos caninos.

E o mar, ao fundo,
em seu azul de safira
sugere a paz:

Que paz?


um cântico em homenagem a T.S.Eliot e seu poema "The Waste Land"

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